Esse relato cobre o período de 11/10/2018 a 15/10/2018
Olá, amigo leitor. Você ainda continua por aqui? Imagino quais séries de decisões erradas te trouxerem até esse limbo virtual. Bom, já que entrou no blog pelo menos leia o post.
Desculpem a falta de uma frequência bem definida nos contatos, a vida anda corrida. Não é fácil viajar por aí. Em vários momentos invejo o paulistano que está parado no trânsito e com tempo para pensar na vida.
Agora vamos falar de um lugar que gostei muito de conhecer e que, como o Japão, tinha um peso simbólico para mim: Hong Long. Lá tivemos uma estadia curta, porém intensa.

Hong Kong é sensacional. Ao mesmo tempo que é um lugar incrível é uma das cidades mais distópicas que já conheci. Aliás, não é uma cidade né, mas uma região Administrativa Especial.
Amigos, pensem em um lugar que é um caldeirão de experiências diferentes. Por ali passamos por grandes estruturas industriais, complexos habitacionais apertados, becos banhados por luzes neon, mercados noturnos lotados de pessoas do mundo todo, portos decadentes e caindo aos pedaços, portos novinhos e cheios de riquezas e distritos financeiros luxuosos que não devem nada para nenhuma NY ou Tóquio da vida ( nunca vi tanto arranha-céu por metro quadrado na vida). E ainda é um local regido por forças sombrias e poderosas e um sistema político suspeito. Aliás, uma boa descrição de HK, feita pela Marina inclusive, é que é uma Tóquio underground. Algo como Japão encontra a boca do lixo. Voltando ao pensamento da distopia, com certeza coisas como Blade Runner ou Necromancer se passariam em HK (embora nenhum dos dois se passe lá, sinto que esse conjunto de ilhas seria o lugar mais apropriado para esses universos).


Inclusive esqueci de mencionar, além de tudo isso que já falei, também é possível fazer trilhas, pegar uma praia ou se enfiar na calmaria de alguns templos. Enfim, baita lugar maluco e com transporte público de primeiro mundo. Adorei.
Antes de continuar é melhor eu ser sincero – eu provavelmente adoraria Hong Kong mesmo que o lugar fosse apenas uma grande planície de lama e unhas humanas. Digo isso porque, como o Japão, Hong Kong foi cenário de muito entretenimento que consumi ao longo da vida. Bruce Lee, Jackie Chan, John Woo e os infinitos filmes de artes marciais que já assisti, todos eles remetem a esse local especial. Sim, eu adoro filmes de artes marciais e se você tiver um pingo de dignidade deve adorar também. Sim, eu sairia na rua com a roupa amarela que o Bruce Lee usa em Jogo da Morte. Não, eu não fui convidado para um torneio de luta secreto durante nossa estadia na cidade e essa talvez seja minha maior decepção da viagem.
Enfim, um destaque de Hong Kong foi fazer uma trilha chamada Dragon’s Back Trail, que termina em uma praia chamada Big Wave Beach. Pensa em um conjunto de nomes fodas, é esse ai. Outro ponto alto foi fazer um free walking tour, que, como diz o nome, é um tour “de graça” com pessoas locais falando sobre a cidade/país. O de Hong Kong foi especialmente legal pois o tour focou muito nas relações históricas de HK com outros países e no atual momento de aflição que os moradores vivem com o crescente domínio chinês. Que dó dessa região, muito chupinhada pelos ingleses no passado e agora sendo reprimida aos poucos pelos chineses, que cada vez mais (falando com base em relatos de moradores) se intrometem de forma arbitrária na política local. Incrível a barreira que os moradores da região tem em relação a “mainland China”. Enfim, até as pressões políticas lembram cenários distópicos.

Depois do nosso free walking tour, que de free tem apenas o nome, pois é de “bom grado” dar uma gorjeta para o guia (o que é mais do que justo, mas dói no meu coração sovina), juntamos um grupo de estrangeiros e fomos desbravar parte de Hong Kong. Eu não sou muito fã dessas atividades em grupo, mas esse dia foi divertido. Aliás esqueci de falar, conhecemos no hostel uma austríaca muito simpática que nos acompanhou durante todo tempo, a Jana. A pronúncia correta do nome é “Iana”, mas verbalizar o som do J e falar JANA de boca cheia é uma ótima sensação, por isso eu falava o nome dela errado com certa constância (sem querer). Já tínhamos deixado a Jana entrar no nosso restrito clube de viagem e aí depois do tour mais quatro pessoas se juntaram a nós.
O próximo passo foi procurar um lugar para comer, e resolvemos ir em um lugar super local que pode ser descrito como uma guerra culinária. Pensa assim, não tem fila de espera, então você tem que ficar igual um abutre esperando a turma levantar da mesa para conseguir sentar. Fora isso não tem cardápio ou alguém trazendo comida na mesa, mas sim umas tiazinhas que andam com carrinhos pelo restaurante e você que tem que correr até o carrinho para pegar o que está sendo servido. Não é um almoço, é uma gincana, e o melhor, nada disso é em inglês. Foi diferente, foi bem legal. Mas Deus me livre fazer isso de novo.

No fim ainda visitámos outra ilha da região com esse mesmo grupo de pessoas. Uma ilhazinha pequena, de pescadores, mas foi interessante demais ver os gringos perdidos que moravam por ali. Até com uma cabana de americanos malucos que largaram tudo para fazer cerveja artesanal em Hong Kong cruzamos.

Esse, que era nosso último dia por lá, ainda terminou comigo quase tendo um infarto. Foi um susto daqueles que fazem a alma pular pra fora do corpo por alguns segundos. Aconteceu assim: chegamos cansados da andança e entrámos no nosso hostel de forma distraída, mas eis que uma jovem coreana espreitava por trás da porta, tal qual uma aparição. E o que a coreana tinha na cara? Sim, isso mesmo, uma daquelas máscaras bizarras de hidratação, parecia que ela tava fazendo um cosplay de Hannibal Lecter no hostel. Sabe aquela parte do “Silêncio dos Inocentes” em que ele corta a pele do rosto do guarda e cola no dele? Tipo isso. Meia Noite. Esperando a gente ao entrar no hostel. Quase morri. Enfim, um final de dia digno de Hong Kong, um lugar bizarro, mas que tem um cantinho especial no meu coração.
Beijos quentes.