China 3 ou o Capítulo da Xangai Escatológica

Esse relato cobre os eventos de 10/09/2018 a 13/09/2018.

Eu fiquei em dúvida se deveria escrever um post dedicado apenas a Xangai (vou escrever com X mesmo). Não aconteceu muita coisa na nossa estadia de três dias por lá. Quer dizer, não aconteceu muita coisa no sentido de conhecer/explorar lugares novos, mas eu garanto que meu corpo estava em atividade intensa. Isso mesmo, apertem os cintos e tirem as crianças da sala, o episódio de hoje será escatológico (e prometo que a partir daqui esse tema quase não aparecerá mais nos textos).

O leitor de boa memória se lembrará do episódio da montanha da discórdia, em Xian, onde excedemos nossas capacidades físicas. Pois bem, logo na madrugada do dia seguinte já pegamos um trem para Xangai, então imagine nosso estado físico ao chegar lá.

Para resumir bem: nossa estadia em Xangai foi oh, show de bola.

Ela foi marcada por uma diarreia poderosa e uma dor física que me fez sentir como o meu falecido avô deve ter se sentido quando quebrou o fêmur já nos últimos anos de sua vida. E fora que o ponto alto de emoção desses incríveis três dias foi visitar (ou melhor, caçar) um hospital chinês.

Enfim, graças a minha “condição” não fizemos nada demais, pois mal conseguia sair. Ficamos em uma área bem turística perto do rio (o Bund) e só posso falar que Xangai a noite é bacana, ou parece ser, algum dia vocês podem visitar a cidade e me contar.

Xangai parece legal 1

Mas ai você pode pensar “dor de barriga é tranquilo pô, não precisa fazer esse drama ai”. Sim, verdade. Até certo ponto, pois a que me afligia era daquele estilo “nada vai ficar aí dentro”, e durou uns três dias. E tem mais, essa aventura intestinal tinha um outro grande ponto de tensão – no nosso último dia lá eu ainda estava passando bem mal e sabia que em pouco tempo pegaríamos um trem de 22 horas, na terceira classe, para chegar até outra cidade. Deixa eu repetir: 22 horas, quase 24 horas (que são um dia inteiro), em um lugar fechado, cheio de pessoas e sacolejante, com as tripas escorrendo por certo orifício. E o banheiro do trem não é o melhor lugar do mundo para sentir que sua alma está escapando do seu corpo pelo ânus. Sem falar que pegar trem envolve todo um trâmite logístico que requer tempo e paciência, coisa que alguém que não está conseguindo ficar 30 minutos longe do banheiro não tem.

Xangai parece legal 2

Durante aquele meio dia que tinha até embarcar na locomotiva da morte eu me senti no seriado “24 horas”. Sabe quando o tempo que falta para algo ruim acontecer pisca na tela com um efeito sonoro? “5:30 até os terroristas castrarem o cônsul”. Então, cada minuto que passava (e eu ainda estava mal) era acompanhado desse efeito visual *vintequatrohoristico* na minha mente. Só que no caso do Jack Bauer o “algo ruim” era o presidente morrer ou algum lugar explodir, e ele podia atirar em todo mundo para resolver os seus problemas. No meu caso o “algo ruim” envolveria muita vergonha em um possível episódio de “defequei em público” e o pior, a única coisa que eu podia fazer a respeito era comer algumas maçãs e beber muita água.

Por isso a Marina resolveu tomar o protagonismo desse filme de terror que se desenhava e me convenceu a caçar um hospital. Primeiro fomos em um lugar que nosso seguro de viagem indicou e estando em Xangai, uma cidade bem cosmopolita, eu estava tranquilo em relação a comunicação. Ledo engano, pois chegando lá descobrimos que ninguém entendia a gente. Nem a porcaria do tradutor. Por sorte um senhor muito simpático, que era paciente do hospital, resolveu nos ajudar e atuou como intérprete, mesmo que o inglês dele não fosse dos melhores. Após uma discussão, que pareceu fervorosa, com um dos médicos, ele nos disse que eles não tratavam daquilo naquele hospital. Achei estranho, afinal quem não trata uma diarreia? Mas após visitar um segundo hospital e receber a mesma resposta na cara, percebi que: ou não existe conceito de clínico geral na China e os hospitais são bem especializados ou nós estávamos nos comunicando de forma muito errada.

Não deixe o andar sereno te enganar, esse homem estava nervoso pra caramba

O resultado disso foi que andamos um bom tempo na chuva (e eu nem preciso lembrar vocês da minha situação) igual umas baratas tontas por partes nada bonitas da cidade.

No fim achamos um hospital bem grande em que conseguimos nos entender e entrar nas engrenagens do sistema de saúde chinês. É confuso, mas funciona. Tem um guichê no lobby do hospital que você precisa visitar para pagar por tudo que quer fazer, por exemplo: para fazer uma consulta você paga antes e depois sobe até o andar do médico e espera sua vez, aí se o médico pede exames você volta para o guichê, paga, e aí vai fazer os exames, se depois precisar comprar remédios é a mesma coisa.

Esperando a consulta

E foi exatamente por isso que passamos, mas no fim foi tudo até que rápido e eu completei todo o processo no hospital mesmo – fui ao médico, fiz o exame de sangue menos higiênico da minha vida, o resultado saiu rápido e já passei para outra consulta. No fim comprei os remédios indicados e corremos para a estação de trem.

Conseguimos chegar a tempo, os remédios fizeram efeito e eu não passei mal durante a viagem sobre trilhos. Não passei mal, mas passei fome, pois só estava comendo uma maçã por dia ainda.

O tal do exame de sangue

Foram uns dias bem ruins, mas já que eu não conseguia fazer quase nada, pelo menos assistimos Missão Impossível no cinema ao lado do hotel. Foi a primeira vez que fomos ao cinema na viagem. Tudo tem um lado bom.

Antes de me despedir gostaria de falar sobre um fenômeno chinês que já tinha visto na internet, mas que foram bacanas de presenciar ao vivo. Principalmente em Pequim e Xangai.

O mercado chinês tem fama de produzir cópias, certo? Mesmo que a cópia seja tão ruim que não parece em nada a coisa original (os famosos bootlegs). Então, aqui você encontra a galera na rua com umas roupas sensacionais (sei que não é só com roupa que acontece), já vi marcas como:

– Diordio Armani

– Girgio Armanu

– Givencho Paris

– Givenchy ParLs

– Yvo Saint Lauren

– Suprem

– Superme

– Supren

– E qualquer coisa que pareça o logo da Supreme. Os caras amam essa marca e tem uns vestuários em que nem parece que tá escrito Supreme. Sério, se alguém colocar CARAPICUÍBA em um retângulo vermelho numa camiseta branca vai vender igual água na China.

O legal sobre essas cópias bizarras é que vi tanto em bairros mais pobres quanto em locais mais nobres, ou seja, a falsificação não conhece barreiras sociais por aqui.

Não que eu ligue pra marca que o pessoal tá vestindo na rua, afinal eu ando com a mesma camiseta três dias seguidos e tenho apenas dois shorts, mas achei uma informação divertida de se compartilhar. Caso você tenha achado essa parte do texto uma perda de tempo pode ligar para meu celular e registrar sua queixa.

E é com essa frase mal criada que me despeço de vocês.

O próximo capítulo é sobre o maravilhoso parque de Zhangjiajie e uma de nossas maiores aventuras da viagem.

Beijos quentes

SE INSCREVE AQUI QUE DÁ TRABALHO

Publicidade