Esse relato cobre o período de 15/10/2018 a 20/10/2018
Olá, desbravadores da dor e sofrimento alheio. Cá estamos em mais um capítulo dessa angústia intermitente chamada vida. Já que a dor é inevitável gostaria de compartilhar um pouco sobre momentos da minha vida em um lugar onde tudo parece menos sofrido e cinza, a Tailândia.
Saímos de Hong Kong direto para o sul da Tailândia, estávamos sedentos por praias, sol e água fresca, por isso pulamos Bangkok e já nos dirigimos para onde a vida é mais colorida. Nosso plano era começar pelo sul e subir o país aos poucos.
Nosso ponto de entrada foi Phuket, uma ilha grande do lado oeste da Tailândia, lado esse que é banhado pelo mar de Andaman (ou Andamão). Baita região. O mar é cristalino, a areia é (normalmente) clara e a água intercala tons de verde claro com turquesa. Realmente incrível.

Em Phuket ficamos 3 dias, mas lá não é nem de perto o lugar mais legal dessa parte abençoada do antigo Sião. É um local grande e espalhado, com algumas praias bonitas e outras nem tanto. Muitos viajantes vão para Phuket pelas festas e curtição, tem uma praia/bairro específico para se perder na noite por lá, mas nós nem sabíamos disso, apenas miramos no aeroporto mais conveniente e partimos. Phuket não é espetacular, mas não vou reclamar, foi nossa primeira experiência na Tailândia e estávamos animados, sem falar que a cidade nos recebeu muito bem. Ficamos em um hostel muito simpático em Phuket Town, uma parte mais antiga e menos turística da ilha, com alguns belos prédios que ainda guardam a memória de um período colonial. Lá também é bem longe de qualquer praia, por isso nosso primeiro dia na Tailândia foi gasto com muita andança, uns sorvetes tomados e umas cervejas locais digeridas. O momento mais memorável dessa curta passagem pela região aconteceu no único dia em que o sol nos agraciou e mostrou toda sua potência tropical. E logo quando eu já estava achando que as mudanças de latitude não iriam surtir efeito no clima. Bom, foi então que resolvemos alugar uma scooter para andar pela ilha, afinal a pé não dava para fazer muito e o transporte público pareceu um pouco limitado. Não vou mentir, embora fosse apenas uma scooter, um veículo quase “de brinquedo”, aquela sensaçãozinha de “aventura” dançou pelo meu âmago, poxa, era algo quase radical o que estávamos fazendo. Primeiro porque fazia uns bons 15 anos que eu não pilotava algo assim, segundo porque o trânsito é meio maluco (isso porque eu ainda não tinha visto trânsito maluco de verdade até esse ponto da viagem) e terceiro porque é legal demais desbravar praias com uma motinho. Para deixar claro, Phuket não é uma ilha pequena, é meio que um grande centro nessa região sul, então o trânsito era meio complicado. E eu fiz questão de deixar ele mais complicado ainda. Quase caímos umas duas vezes, quase colidimos com locais umas cem vezes, mas, surpreendentemente, terminamos o dia sem acidentes. No fim a maior adrenalina mesmo foi ter sido obrigado a deixar meu passaporte um dia inteiro com o tiozinho que alugava as motos. Ele tinha cara de que ia apostar meu precioso documento de valia internacional em uma luta de galos regada a rum ou algo do tipo.

Nesse dia em que rasgamos o asfalto vimos uma praia bem charmosa (Nai Harn Beach), outra nem tanto (Patong) e um Buda gigante que ficava no alto de uma colina. Durante todo nosso tempo na Ásia vimos inúmeros Budas gigantes, mas eu sempre fico fascinado com eles. Bom, é isso, se você estiver se perguntando como me deixar feliz é só me levar para ver um Buda gigante.

Engraçado essa sensação de “coito interrompido” da aventura que por vezes toma conta de mim. É um misto de animação seguido de um profundo sentimento de auto desprezo. Vamos lá, eu explico: alugar moto na Tailândia para desbravar praias? Animal e coisa de aventureiro. Quase cair algumas vezes e sentir em todos os momentos que você pode morrer sendo o único turista imbecil a causar um grande acidente com essas porras? Meio broxante. Acho que a vida está sempre aí para nos colocar em nosso lugar.
Outro fato interessante de Phuket – enquanto estávamos lá aconteceu o “Festival Vegetariano”, uma celebração budista local super importante da ilha. Não vou entrar nos pormenores históricos da festa, vocês que procurem no Google, mas vou dizer que envolve sacrifício e auto mutilação. Não vimos isso, são nove dias de festival e pegamos apenas o último, mas vou dizer que no dia que estávamos lá a turma passava pela rua, em uma espécie de passeata, e a população jogava fogos/bombinhas nos transeuntes. Isso bem em frente ao nosso hostel. Baita barulheira, parecia até que uma tempestade estava castigando a rua. Foi muito interessante nos primeiros 30 minutos, mas depois enjoou um pouco. Não é ruim quando as tradições locais batem de frente com seu conforto? Eu acho péssimo (brincadeira né).

Depois de Phuket pegamos uma balsa e fomos parar em Phi Phi island, um lugar com mais turista por metro quadrado que a Disney, mas mesmo assim muito interessante. Sabe aquele filme “A Praia”? Foi filmado na região. Inclusive o livro e o filme de mesmo nome são apontados como grandes catalisadores do boom turístico na Tailândia. Eu, do filme, só lembro do Leo DiCaprio sem camisa.
Enfim, Phi Phi é bem bacana, é uma ilha pequena, com uma pegada meio aventura, mas com muita festa e gente jovem. Muito mochileiro também. Não tenho mais idade para tanta socialização e bebedeira. Ou achava que não tinha, pois acabei caindo no vórtex da perdição que é essa ilha, mas descreverei isso melhor nos próximos posts. Aliás, eu fui bem injusto ali em cima no texto, Phi Phi não é só bacana, é um lugar surreal de lindo e que reúne diversos elementos que NÃO me atraem em uma viagem e mesmo assim eu adorei. A ilha é mística, não tem como negar. Você pode se divertir curtindo a natureza, as festas ou fazer um mix sadio dos dois. Quem não gosta de Phi Phi bom sujeito não é.
No primeiro dia no paraíso fizemos um grande passeio de caiaque em que eu tive que remar como um lacaio em um navio viking, como se minha vida dependesse disso (Marina não contribuiu muito, mas não falem pra ela). Fomos de uma praia movimentada e cheia de macacos para outra meio deserta, que quase ninguém se arrisca ir de caiaque, atravessando um canal um pouco feroz. Claro que me senti o Indiana Jones brasileiro após ter conseguido realizar a façanha – e navegar por um mar transparente entre falésias incríveis não foi nada mal. Depois fomos almoçar em um lugar que é a epítome dessa cultura backpacker: era barato, sujo, gostoso e cheio de registros/memórias nas paredes. Legal demais. Nessas horas quase me sinto desbravando alguma coisa, mas depois os 30 mil turistas fazendo barulho ao meu lado me fazem abrir os olhos. Até quando vai perdurar essa fantasia de “explorador” que ainda carrego, até mesmo 10 meses depois de começar a viagem?

E vou falar aqui também do nosso segundo dia por lá, que usámos para relaxar em uma praia tranquila (e linda) e depois fomos até um mirante no entardecer. O mirante era pra ser perto, mas foi longe. Pegamos uma trilha “alternativa” e passámos por mata, lama, construções e uma família brava de gansos selvagens. No fim valeu a pena, bonito demais ver a ilha por um ângulo privilegiado. Engraçado que a grande concentração de moradias de Phi Phi fica em uma faixa estreita de areia entre grandes montanhas de granito apenas habitadas por macacos e árvores tropicais. Acho que ainda existe algo de mágico enterrado nos cantos mais selvagens desse fantástico pedaço de terra flutuante.
E o dia terminou como? Em um bar que tem lutas de Muay Thai ao vivo. Os clientes podem lutar por uma bebida grátis. E eu? Não lutei. Podem me chamar de decepção, eu sei. Vou dormir pra sempre com esse peso na consciência.
Amigos, desculpem o ritmo mais esquizofrênico que o normal desse post, mas fiz o primeiro rascunho desse texto 7 meses atrás após beber um balde (literalmente um balde) de uma coisa nojenta nesse bar do Muay Thai. Acho que assim os relatos ficam mais sinceros.
Phi Phi é um lugar tão incrível que acabamos estendendo nossa estadia, por isso vou continuar as crônicas dessa ilha ébria em um próximo post, afinal foram tantas maluquices em tão pouco tempo (e tanta coisa bonita que vimos ) que se eu continuar escrevendo aqui esse post será quase um livro.
É isso.
Beijos quentes!