Turquia ou a conturbada chegada em Istambul

Pôr do sol em Istambul

Olá, aventureiros do bairro proibido. Como a fênix que ninguém gostaria que ressurgisse eis que me ergo mais uma vez das cinzas virtuais para espalhar amargor e ressentimento. Prepara-se para mais um post deste blog.

Por falar em alegria, esse próximo relato trata sobre uma das situações que mais me alegram nessa vida – as mudanças de última hora. Claro que quem me conhece sabe que isso é uma grande mentira, o peso opressor da mudança de planos me faz suar e perder as estribeiras. Eu me transformo na máquina humana de xingar e transpirar. Claro, nesse ponto já tinham se passado 11 meses de viagem e aí as coisas já tinham melhorado  um pouco, mas ninguém muda tanto assim tão rápido. Eu vou usar a palavra ódio agora. Eu odeio quando algo sai fora do planejado (ou do meu controle). Já odiei mais, hoje odeio menos, mas ainda odeio. É tipo como minha tia Odete se sente em relação a mim. Ela finge que gosta, mas no fundo me odeia (e sempre me dava meias no Natal). E digo mais, tenho inveja e antipatia de quem declama com toda força dos pulmões “nossa, adoro mudanças de planos, o inesperado” – eu espero que você sofra nas profundezas do tártaro (mas no fundo tenho inveja de você), seu ser alienígena. Veja bem, odiar mudanças em rotas planejadas é uma coisa, não ter rota é outra. Me sinto muito mais confortável com a segunda opção, de verdade, afinal se nada tem para mudar, nada tenho para me estressar. Agora… mudanças muito repentinas e decisões em cima da hora tem para mim o mesmo efeito que mil pessoas beliscando sem parar o meu escroto esquerdo. Irrita em níveis estratosféricos. 

E eu escrevi tudo isso apenas para dar o contexto emocional de minha pessoa durante os apuros que passamos no aeroporto do Sri Lanka. 

Uma foto de uma ilha perdida no Mar de Mármara

Como alguns devem se lembrar, na último post estávamos prestes a sair das Maldivas. O que ninguém sabe é que nosso voo (que já tínhamos comprado) tinha como destino final Delhi, apesar de fazer uma escala no Sri Lanka, um país que a princípio não tínhamos pensado em conhecer, mas que após as dicas de amigos viajantes e uma pesquisa rápida nos cativou muito. Pois bem, o circo estava armado. Iríamos parar em um país apenas como escala e agora queríamos ficar nele. Tentamos de tudo para ficar por lá. Mandamos email, ligamos, mandamos mensagem e eu quase invadi o escritório da companhia aérea em Malé para tentar cancelar a ida até Delhi e ficar em Colombo (ou fazer um stop over de 15 dias). Nada deu certo. O universo queria que voltássemos para Índia. Porém só esgotamos todas nossas tentativas de conhecer o Sri Lanka no aeroporto das Maldivas, onde já não tínhamos mais internet, por isso resolvemos decidir qual seria nosso próximo destino (e comprar a passagem) na nossa rápida parada de 1 hora em Colombo, capital do Sri Lanka. 

Isso mesmo, iríamos comprar uma passagem para o dia seguinte contando apenas com a ajuda capenga da internet do aeroporto. Enfim, chegamos no nosso pit stop aéreo e começamos a considerar possibilidades. Após algumas discussões decidimos pelo Irã, mas uma conversa em tempo real com a família da Marina quase gerou um ataque cardíaco fulminante nos pais dela (a tensão entre Irã e EUA estava pior do que o de costume naquela semana) e então tivemos que abandonar a ideia. Voltamos a estaca zero. E o tempo passando. E eu ficando mais nervoso. Cogitamos ir para Georgia, Armênia, Turquia e países da Ásia central, mas não chegamos a nenhuma conclusão. E deu o horário do nosso voo. Teríamos que decidir tudo em Delhi mesmo. Descemos correndo para o portão de embarque e chegamos lá faltando 20 minutos para o avião decolar. Ufa. E então eis que os atendentes da cia aérea nos disseram que não poderíamos entrar na Índia sem uma passagem de saída (coisa que já tínhamos feito anteriormente). Foi aí que toda a calma que eu já não tinha escorreu do meu corpo com o suor que saia de mim. Tive que ranger muito o dente para não dar um chilique público lá. E olha que eu odeio chamar atenção. Esse era meu nível de loucura no momento, eu estava quase fazendo uma coisa que abomino por causa de outra coisa que me tira mais ainda do sério. A Marina teve que me deixar no canto de castigo enquanto resolvia a situação e aí conseguimos achar um sinal fraco de internet e comprar uma passagem para a Turquia, o destino mais barato . Entramos no avião no último minuto, eu já estava quase desfalecido no saguão de embarque, mais um pouco e teriam que me empurrar com uma cadeira de rodas pra dentro. Sim, essa é a potência de algumas de minhas neuroses, perder um avião quase me faz ter uma síncope, por isso eu odeio e invejo você, pessoa que ama mudanças de planos. Eu já disse, sou um velho de 74 anos na fila do INSS preso no corpo triste de um homem de 29 anos. 

E foi assim, após uma balsa de 7 horas, um derretimento mental no aeroporto e uma longa espera em Delhi (com direito a atraso) que chegamos na Turquia. 

Nossa porta de entrada foi Bizâncio, ou melhor Constantinopla, quer dizer, Istambul. Lugar que já teve vários nomes ao longo do tempo é chique. Lugar que já fez parte dos grandes impérios do mundo é mais chique ainda. E olha, Istambul não decepcionou. 

A grandeza de Hagia Sophia

Você deve imaginar que após toda a saga dos mil destinos no aeroporto chegamos com aquele humor sorumbático em Istambul, mas a cidade logo nos curou. Perto de quase tudo que enfrentamos na Ásia é um lugar muito organizado, mas vivo, sem o clima antisséptico que paira sobre algumas cidades europeias. Tem história, cultura, belas paisagens, arquitetura memorável, diversão e comida boa. O horizonte é dominado pelas colinas cheias de mesquitas e os canais que cortam Istambul deixam tudo mais especial. Pode parecer que estou floreando essa descrição, mas ela é incrível e eu gostei mesmo da cidade. Para cair no maior clichê possível de quem descreve Istambul, realmente o lugar (a única capital dividida entre Ásia e Europa) carrega o DNA de dois continentes diferentes. Pronto, ta aí o lugar comum do texto. Por mais que a gente acha que vai escapar da mediocridade ela sempre nos alcança. Enfim, o clichê de Istambul é poderoso porque é real. 

Adorei ver as mesquitas, tanto as mais famosas quanto as “comuns”. Eu adorei a arquitetura dos lugares sagrados do islã no geral: a abóboda, as cores, os minaretes. Para mim parece sempre cenário de filme (algo que diz mais sobre minha familiaridade com outra cultura do qualquer coisa). Talvez seja assim que os muçulmanos devam se sentir em relação as catedrais do ocidente quando as visitam. Enfim, foi bom eu ter gostado tanto de mesquitas, porque são mais de 3 mil espalhadas pela cidade. 

Mesquita Azul e a turma passeando

Por lá fizemos o básico do turismo, visitamos os grandes marcos históricos e museus (e foi bacana, mas cheio). Visitamos o lado Asiático da cidade, cruzamos suas pontes a pé e acompanhamos a pescaria de velinhas e velinhos e  conhecemos uma ilhota de veraneio no mar de Mármara. Também perambulamos bastante pelo bairro em que ficamos, Beyoğlu, uma espécie de Pinheiros de Istambul, se pinheiros tivesse construções do século V e cerveja barata. Era uma região gostosa de desbravar, com vielas charmosas, cafés e muitos sorvetes bons. Muitos. Tomamos sorvete além da conta. Sorvete e chá. Uma coisa que nossa estadia na Turquia nos ensinou foi a tomar muito chá. Chá de café da manhã, chá da tarde e um chazinho antes de dormir. Se bobear dava pra encaixar um chá até nos momentos mais íntimos no banheiro. 

Futebol sempre presente pela Turquia.

Istambul é uma maluquice histórica que agrada todo tipo de viajante, sério. Dá para ser chique, conhecer lugares e gastar muito. Dá para ser mais raiz e sobreviver só de doner (o churrasquinho grego deles), que é muito bom. É um lugar que é confortável e misterioso ao mesmo tempo, e que nos agradou tanto que ficamos 1 semana por lá. 

Cineminha estiloso

Inclusive até ficamos sem o que fazer, de tanto que andamos pela cidade. Tão sem o que fazer que fomos duas vezes ao cinema. Era tão barato (comparado a São Paulo) que não podíamos perder a oportunidade. O cinema era antigo, clássico, com aquelas salas que lembram os velhos cinemas do centro de SP que hoje só passam filme pornô e abrigam malucos fissurados na própria genitália. Então vamos recapitular, o cinema que encontramos era barato, estiloso, retrô e não tinha nenhum doido se masturbando com a foto de uma coleção de unhas. Sim, o cinema de Istambul era melhor. 

Sorvete

E por lá foi isso, foram dias maravilhosos para repor as energias e também a melhor porta de entrada possível para um dos países com mais história neste planeta. Depois de Istambul partimos para Capadócia, região que certamente não deveria existir dentro da Terra e sim em Marte, um lugar que está entre um dos meus preferidos da viagem. E também onde eu perdi minha dignidade para sempre. Mas isso é assunto da próxima newsletter.

Beijos quentes

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Nepal ou o capítulo das andanças pelos Himalaias 1

vista comum durante a trilha

Olá fiéis seguidores desta estranha jornada pelo mundo e por minhas desventuras intestinais. Chegou o dia de vocês apreciarem mais um conto sobre a “viagem”. Quer saber por que eu usei aspas na palavra viagem? Porque na verdade fiquei 12 meses sem sair de um quarto escuro na casa da minha mãe, alternando entre o videogame e chorar em posição fetal. Essa história de volta ao mundo foi apenas uma fachada para vocês gostarem de mim. Brincadeira. Ou não. Ninguém nunca saberá a verdade. 

E agora vamos falar sobre o Nepal e o nosso trekking.

Saímos de Perth com um certo peso nas almas, uma mistura de receio com preguiça, afinal estávamos deixando um cantinho organizado e familiar para nos jogarmos no caos de sons e cores que é a Ásia. Adoramos nossos 7 meses asiáticos, mas eles nos cansaram bastante. Como seria nossa volta?

Após um atraso considerável no voo, umas voltas nervosas de avião por cima do aeroporto de Katmandu e um pouso inesperado em Calcutá, finalmente conseguimos chegar. Estávamos de volta para o rebuliço asiático. 

O Nepal já mostrou sua cara logo no aeroporto, nos deparamos com aquilo tudo que já tínhamos visto de uma maneira ou de outra por onde passamos: aglomerações ao invés de filas, taxistas abusivos, pessoas invadindo seu espaço pessoal para vender tours, multidões, buzinas, cores, poeira e tuktuks. O trânsito foi uma esperada confusão – mistura perigosa de falta de leis (ou fiscalização) com motoristas ousados demais. Katmandu não é grande e logo que saímos do aeroporto nos deparamos com vielas iluminadas por neon poderosos, construções tradicionais, templos e restaurantes em “buracos” na parede. E assim percebemos que estávamos é com saudades daquele caos todo. Foi uma volta da sensação de aventura, da dinâmica, do movimento e de viajar no “modo difícil”. Ter ido para Austrália foi incrível, inegável, mas o sentimento é outro ao chegar em cantos mais caóticos do mundo. 

A confusão de Katmandu

Katmandu é fascinante e peculiar, mas não dá para falar que é uma boa cidade. Tem muita história, alguns templos sensacionais, um bairro turístico muito interessante, mas é suja (não como a Índia), poeirenta e ainda muito destruída, consequência do terremoto de 2015. Triste ver como o dinheiro de ajudas internacionais e dos milhares de turistas que vão para lá todo ano praticamente não é revertido em benefício da população. 

Thamel, o canto onde ficam os turistas, é uma cidade a parte. Apesar de não refletir a realidade de Katmandu, é interessante. Conta com vários restaurantes bons, bares de origem suspeita, milhares de lojas de equipamento de caminhada e lojas de souvenir e tecidos, todos espremidos em vielas antigas e de arquitetura única. Parece um ponto de convergência de exploradores do mundo todo. 

Ficamos apenas dois dias lá antes de começarmos nossa própria aventura. Foram dois dias sem tempo nem para ir ao banheiro, pois cuidamos de todos preparativos para nossa trilha. Fechamos tudo com a agência e compramos equipamentos e suprimento que faltavam. Inclusive se você estiver precisando de casacos, jaquetas, calças ou qualquer coisa da North Face recomendo dar um pulo em Katmandu. Lá tem tudo o que você imaginar, só que muito mais barato. Claro, você pode acabar adquirindo produtos da Face North ou North Fade sem saber, mas mesmo assim vale a pena. Comprei vários produtos genéricos e todos aguentaram o tranco durante nossas andanças himalaias. 

Aliás, a trilha. Melhor explicar um pouco sobre ela antes de entrar em detalhes sobre os próximos dias. Bom, nosso grande objetivo ao ir para o Nepal era fazer um trekking até o acampamento base do Everest. Esse é um percurso que sai de um ponto com 2.800 metros de altitude e chega até outro com 5.400, ou seja, vai até bem alto, onde tem pouco oxigênio no ar. Falando de distância percorrida, são cerca de 130 quilômetros andados para ir e voltar. É bem frio também. São doze dias (ou mais) passando por pontes sacolejantes, beiradas traiçoeiras de precipícios, rios gelados e iaques com cara de poucos amigos. Mas assim, claro, não foi nada demais, coisa boba que fizemos por diversão sem nem perceber. 

Brincadeira, é uma baita aventura, com certeza. Mas isso não quer dizer que subimos o Everest. De novo, fomos “só” até o acampamento que todas expedições de alpinistas que realmente tentam alcançar o cume usam como base principal. Mas eu não vou ligar se vocês entenderem errado e dizerem por aí que estivemos no topo do mundo. Se não for muito trabalho podem falar também que eu encontrei um Yeti no caminho e obviamente ganhei dele em uma troca de socos amigável. E ele tava com uma faca. 

No dia 10 de abril, uma quarta feira, acordamos duas da manhã, pegamos uma van assassina de bem-estar (mais uma) que nos levou por encostas sinuosas e curvas malditas até Ramechhap, uma cidadezinha que fica a umas 5 horas da capital e tem um dos aeroportos mais tristes que já vi. Bom, nem é um aeroporto na verdade, é uma pista de pouso curta que tem uns casebres em volta onde o pessoal improvisou imigração, balcão de cia aérea e etc… Inclusive estou falando do aeroporto pois era esse nosso destino, foi lá pegamos um avião até Lukla, uma vila nas montanhas onde o trekking realmente começa. Chegar e sair de Lukla de avião é uma das experiências mais aterrorizantes que já tive, e olha que eu já fui chamado para subir no palco em uma daquelas peças interativas. Os aviões que chegam até lá são modelos pouco mais avançados do que o saudoso 14-bis e a pista de pouso de Lukla é mais emocionante que qualquer montanha-russa do Beto Carrero – ela é curta, extremamente curta para que qualquer coisa aconteça com segurança lá. De um lado termina em um morro e do outro em um desfiladeiro. Caso esteja duvidando de mim basta dar um Google em “Lukla Airport” e ver por você mesmo. 

A carroça voadora

Subimos em nossa carroça voadora, demos sorte pois não morremos, chegamos em Lukla, conhecemos o rapaz que iria nos ajudar com as mochilas e já começamos a andar. E sim, nós contratamos um porter, o Gopal (no último dia ele me disse que esse não era o nome dele, mas pedia para a gente chamar ele assim). É estranho e desconfortável olhar uma outra pessoa carregar a maior parte das suas coisas, mas conversamos com muitos viajantes que já tinham feito a trilha antes e todas disseram que em época de alta temporada é bom ter um porter ou guia, pois eles te ajudam a reservar lugar nos lodges (espécie de pousadas)  que ficam pelo caminho. Ir sozinho é correr o risco de chegar em vilas mais elevadas e inóspitas e ficar sem teto para dormir. E isso realmente acontece. Outro ponto – essa é a única profissão deles, muitos como o Gopal só trabalham durante temporada, então não sei o quanto isso é ajudar diretamente a economia local ou não. Talvez eu só esteja me enganando. Mas é perfeitamente possível fazer a trilha sem um guia ou algo do tipo, tudo é bem sinalizado, milhares de pessoas andam pela mesma região e daria sim para completar a caminhada com mais peso nas costas. No fim eu e minha fiel companheira fomos bem econômicos, juntamos todas nossas coisas em um mochila que ficou com 13 quilos (essa o porter levou), eu levei uma mochila com mais algumas coisas aleatórias e uns casacos (ficou com uns 7 quilos) e a Má levou um mini mochila com menos de 1 quilo. Estávamos bem leves. 

Outra coisa que esqueci de dizer e é bom explicar – em nenhum momento é necessário acampar durante o percurso, só se você quiser (para economizar) ou se ficar sem lugar pra dormir. Existem diversas vilas pelo caminho e sempre tínhamos onde parar para comer e para dormir. Ficávamos nos famosos lodges, hospedagens pequenas e simples espalhadas por todo canto nesse ponto do planeta. Certo, agora que tirei isso da frente posso prosseguir.

O aeroporto de Lukla

Começamos em Lukla, quase sem dormir, após rir na cara do perigo ao embarcar no famigerado ”avião” e com fome. Ainda bem que o primeiro dia foi curto e pouco cansativo. Mesmo assim já deu um gostinho do que viria pela frente. Lukla fica 2.800 metros acima do nível do mar, já é um local onde o frio se faz presente, mas ainda não se sente muito a altitude. Até Phakding, a vila onde dormimos, andamos por um verdejante vale dos Himalaias, sempre acompanhando um rio cor de jade num sobe e desce leve. Ao fundo montanhas cobertas de gelo salpicavam no horizonte, mas nenhuma dessas era ainda o Everest. O primeiro e o segundo dia de caminhada, em que a vegetação é mais densa, as vilas maiores e mais fartas e os arrozais visíveis me lembraram um pouco do nosso trekking pelo Vietnã, só que com muito mais stupas budistas pelo caminho. Um visual calmo, tranquilo e quase isolado, não fossem os cerca de 30 mil turistas que passam lá por ano. Uma coisa diferente entre o primeiro e o segundo dia foi o nível de esforço físico necessário para alcançar nossos destinos. Saímos de Phakding, a 2.600 metros e precisaríamos chegar em Namche Bazar, a 3.200. Foi um dia longo, de lindas paisagens e em que cruzamos a ponte mais famosa desse trekking todo, que inclusive aparece no filme Everest de 2015. O problema é que após ela tivemos que enfrentar uma subida contínua de quase 2 horas. A primeira “mega subida” da trilha toda. Isso em um caminho estreito, perigoso e que precisávamos dividir com outros caminhantes e burros de carga. No meio da subida passamos até por um lugar em que supostamente é possível ver o Everest de longe, mas o céu parece sempre estar encoberto perto dele, baita montanha tímida viu, nunca quer aparecer pros outros. 

Passando pelas vilas

O importante é que suados, cansados e talvez até um pouco assados finalmente chegamos em Namche Bazar, pra mim a vila mais impressionante do caminho todo. Foi um momento bem impressionante, pois só dá para ver Namche em sua totalidade ao passar por uma curva  fechada beirando um penhasco e aí depois do que parece ser o limite da cordilheira do nada lá está ela: uma cidade toda na montanha acobertada pela neblina.

Parece tranquilo, mas essa ponte se mexia um bocado

Mas é engraçado que ela não está no topo da montanha, ela parece acompanhar a encosta em forma de ferradura, como se estivesse na beira do precipício. Para mim Namche lembrou uma cidade em uma pequena baía marítima, só que essa baía está uns bons metros acima do mar. E na frente da vila o que tem? Montanhas, claro! Duas, bem grandes, brancas e imponentes, ali paradas, apenas exibindo seu topo tomado pela neve. Eu achei o lugar incrível e com uma vista incrível, realmente marcante. É uma vila mais desenvolvida que as outras, afinal é o último grande ponto antes de o caminho se enveredar por terrenos mais complicados, talvez por isso seja menos “autêntica”, mas ainda assim notável. Lembro de pensar duas coisas quando cheguei lá: se Shangri-la realmente existe fica em algum lugar naqueles vales perdidos dos Himalaias e talvez seja uma cidade parecida com Namche Bazar. 

Namche Bazar

Foram dois dias na vila, pois lá fizemos nossa primeira aclimatação. Mas isso eu vou detalhar mais no próximo post. Escrever sobre tanto esforço físico me cansou. 

Beijos Quentes

Filipinas ou o capítulo do pôr do sol que não brinca em serviço

Como faz tempo que não posto vou colocar uma foto bonita para começar

Olha só, são eles mesmo, o grupo de corajosos leitores que decidiram dar mais uma chance para esse endereço virtual após um longo e tenebroso hiato. Gosto como vocês enfrentam a vida de frente sem deixar as amarguras tomarem conta da alma. Se fosse eu já estaria com minhas roupas de baixo estatelado no sofá curtindo a última bobagem qualquer na Netflix. Ainda bem que vocês gostam de ler. 

Esse é mais um post sobre as Filipinas e para quem não lembra, post sobre as Filipinas sempre começa com uma reclamação sobre transporte e deslocamento. Os mais memoriados vão lembrar que no último relato estávamos saindo de Cebu City até Maia, uma pequena cidade bem ao norte da ilha de Cebu. Bem, para fazer esse trajeto pegamos um (bom) ônibus local. O problema foi o trânsito infernal. Foram 5 horas para andar cerca de 130 km em estradinhas de qualidade duvidosa. Isso mesmo. Pelo menos tinha uma TV com filmes pirateados no busão, então fui curtindo um Mad Max tranquilo em meu canto. Ou quase, pois perto de nós sentou um israelense que não parava de puxar papo e, se vocês acompanham o blog , devem saber que nós não estávamos no clima para conhecer ninguém. Até gosto de pessoas, mas longe de mim. 

Chegamos em Maia no fim do dia e apesar do nosso destino final ser Malapascua, uma (outra) ilha que fica a cerca de uns 30 minutos de barco de onde estávamos, já não tinham mais balsas navegando devido ao horário. Resolvemos então seguir uma dica de nossos parceiros brasileiros, Ed e Enzo, que já tinham passado por aquele canto das Filipinas, e nos hospedamos em um dos pouquíssimos lugares possíveis em Maia, o Skip. Um hotelzinho escondido no fim de uma viela de terra/areia que parece não querer ser encontrado, pois nem site tem, mas que contrário às expectativas é um lugar agradável e organizado. Ficamos sozinhos no dormitório para oito pessoas, de tão isolado que estávamos por lá. Além de nós o hotel tinha como hóspedes apenas alguns europeus que me pareceram alemães, amigos do dono, o Skip (não sei se ele chama Skip mesmo, mas é como eu chamava ele). Lá foi onde tomamos um dos pouquíssimos banhos quentes que encontramos nas Filipinas e comemos bem, muito bem. Gostaria de falar em especial de um prato chamado “Bruce Lee Chicken”, que teoricamente segue uma receita do próprio Bruce Lee, pois o pai do Skip foi aluno do lendário ator/lutador (tinha até foto deles na parede). Além do prato ser muito bom, degustá-lo foi o mais próximo que eu já cheguei de “conhecer” o Bruce Lee, um dos meus ídolos. Eu gosto muito do Bruce Lee e acho que é o dever de todo ser humano assistir Enter the Dragon. Sim, um dos meus ídolos é um maluco que enfiava porrada nos outros em frente a uma câmera, desculpe. Pensando bem eu não sou a melhor pessoa para avaliar o “Bruce Lee Chicken”, pois um prato com esse nome poderia ser até coração humano com molho de alcaparras que eu acharia delicioso. Enfim, foram bons momentos no Skip e por causa da chuva alegremente estendemos nossa estadia para dois dias. Aproveitamos para comer bem, relaxar e arranjar umas brigas (uma das informações anteriores é falsa).

Após esses dias de puro relax partimos de Maia para o ponto alto da nossa viagem Filipina, a ilha de Malapascua, o lugar onde o pôr do sol nunca decepciona. 

Um dos portos de Malapascua

Saímos cedo do Skip e pegamos um ônibus local, bem mais barato que os tuktuks, até o porto, uma pontinha no extremo norte da ilha. Porto esse que era na verdade um amontoado de pedra, barcos e gente. Apesar da falta de preocupação com a segurança dos passageiros e a latente desorganização até que o local funcionava direitinho a sua bizarra maneira, como quase tudo no sudeste asiático.

Após um tempo mínimo de espera pegamos nossa balsa, junto com locais e outros turistas, até a pequena ilha que fica entre Cebu e Ormoc que também são ilhas, mas são ilhas grandes. Não se confunda. Malapascua é uma ilha pequena. Toda vez que faço um texto sobre as Filipinas eu canso de escrever “ilha”. 

Malapascua é um pequeno paraíso árido, com vegetação rasteira e muitas rochas. Tudo isso banhado por águas azul turquesa. 

Da uma sacada no lugar

A maior cidade, quer dizer, a maior concentração de gente fica na parte sul da ilha, que é cheia de hotéis, resorts e restaurantes. A parte norte é mais deserta e tem as melhores trilhas e praias. Demora mais ou menos meia hora de uma ponta à outra da ilha a pé. Sei que repito muito isso por aqui, mas amigos, que lugar incrível. Não estava muito cheio, as praias eram lindas, o clima tranquilo e ainda tinham bons lugares para comer e beber.

Outro ponto importante – estávamos energizados e com a sensação de liberdade em alta. 

Ficamos 6 dias por lá, por isso não vou detalhar o nosso itinerário senão gastarei a sua paciência e meus dedos descrevendo inúmeras horas em que passei imóvel sob o sol, refletindo se o barulho que vinha do meu estômago era fome ou algum tipo de indisposição. Não, não vou fazer isso com vocês. 

O que tenho para dizer e merece destaque é (e aqui vou correr o risco de ser redundante) Malapascua é fora do comum. Passamos a maioria dos nossos dias na praia bem ao norte chamada de… na verdade acho que ela chama North Beach mesmo. Baita lugar lindo. Areia branquinha, água transparente (parecia de filme), pouquíssimas pessoas e um clima relaxado. Ficamos muito tempo lendo e jogando cartas à beira daquele lindo mar. Inclusive venho aqui dizer que tranca é um jogo injusto e criado com o exclusivo intuito de me irritar, pois perdi QUASE todas as partidas para a Marina. Digo “quase” pois ganhei a partida mais importante, a que valia tudo. Me recuso a comentar sobre os supostos chiliques que dei durante os jogos, inclusive se a Marina falar disso saiba que é mentira. 

Para chegar à praia do norte nós tínhamos que andar um pouco ou usar o meio de locomoção oficial da ilha, o mototáxi clandestino. Alguns moradores locais tem moto e, por alguns trocados, estão dispostos a te levar na garupa para qualquer lugar. E era isso que acontecia. E o melhor, como somos pão duros usávamos apenas um “mototáxi” para nós dois, então íamos até o nosso pequeno paraíso em um sanduíche do amor formado por mim, Marina e um filipino sortudo. Tempos gostosos demais. 

E um último ponto sobre esse cantinho abençoado de Malapascua. Ao lado da ilha fica uma vila, então ali podíamos ver os moradores aproveitando a praia, o que é algo meio único no sudeste asiático (vimos mais isso nas Filipinas). Normalmente os pontos turísticos são sempre povoados apenas por turistas gringos.

ruínas de um resort abandonado perto da praia norte

Basicamente todos os nossos dias em Malapascua foram gastos procurando algum lugar pra comer nas praias do sul e aproveitando o norte para relaxar. Ficamos em dois hotéis, pois fizemos reservas “picadas”. No primeiro e mais caro nosso quarto parecia um cativeiro. Era todo feito de bambu, pequeno, quente, sem banheiro e com uma quantidade absurda de areia no chão. Eu estava esperando o grupo Tigre da polícia civil arrombar a porta a qualquer momento achando que tinha uma situação com reféns acontecendo ali. Nosso segundo hotel era bem mais barato e gostosinho, mas eu não tenho nada de engraçado pra falar sobre ele, então mil perdões. 

Uma coisa peculiar sobre a ilha é que as crianças locais treinam cantar para turistas, mais especificamente a música tema do Titanic, esperado algum tipo de gorjeta, claro. Até aí tudo bem, o problema é que elas surgiam do nada, surgidas da areia em momentos inesperados. Certa vez estava eu lá curtindo o clima de uma pequena baía perto de uns restaurantes e do nada surgiram 4 crianças e começaram a cantar. Fiquei desesperado porque, bem porque eu sou eu, tenho problemas em chamar atenção e não sabia o que fazer, já que meu único pertence no momento era o shorts que eu estava usando, pois a Marina tinha ido comprar alguma coisa. Tentei avisar a molecada, mas eles continuaram a música e, ao acabar, ficaram bravos com as míseras moedas que eu achei no bolso. A vida é injusta.

A noite passeamos pela vila e descobrimos as crianças treinando a cantoria delas (com a mesma música, claro) em um karaokê local, a Marina até entrou na onda, cantando junto da janela do estabelecimento. 

Pôr do sol visto da trilha do farol (rimou)

Fora relaxar e comer, andamos muito por lá. Fizemos uma trilha rápida, conhecemos as vilazinhas da ilha e eu fiquei sem chinelo. E por que essa informação é importante? Oras, pois meu chinelo resolveu morrer no primeiro dia por lá, mas como sou brasileiro (e pão duro), me neguei a comprar um chinelo local que era bem ruim e resolvi andar descalço até chegar na Austrália, onde um amigo vindo do Brasil iria me trazer um novo par de Havaianas. O problema é que passamos por trilhas com pedras afiadas, locais com cacos de vidros e mais todo tipo de chão acidentado, e a Marina ficava bem brava que eu estava descalço, principalmente porque eu andava devagar. Mas até aí tudo bem, afinal meu pé é calejado, certo? Não. Eu pensava que era, mas a vida tá aí pra desmentir as verdades que contamos para nós mesmos. Uma noite saindo de um restaurante dei uma topada num degrau maldito, mas continuei andando, pois achei que nada tinha acontecido. Isso até sentir meu dedo um pouco molhado. Olhei pra baixo e ele estava inteiro vermelho, tinha conseguido arrancar um belo bife do meu dedão. E o melhor (ou pior), como lá o chão era 90% areia meu pé já estava a milanesa. Isso foi um saco , pois com medo de infeccionar a ferida eu andava igual o batoré da “Praça é Nossa” ou tinha que usar o pequeno chinelo da Marina, o que a deixava brava e me xingando a cada cinco minutos. Era melhor ter perdido o dedo.

Comecei esse texto falando sobre o pôr do sol em Malapascua e agora preciso me aprofundar no assunto, mas o problema é que não tem muito o que falar (ou eu não sei o que dizer), só que todo dia lá é um fim de tarde mais espetacular que o outro. É a combinação sublime daquele céu que fica inteiro rosa alaranjado com uma bola de fogo perfeita que se põe no mar. Todos os dias foram sensacionais, não dá pra falar “o pôr do sol do segundo dia foi mais caidinho”. Não. Confie em mim ou viaje até Malapascua e veja você mesmo. O mais legal é que sempre estávamos em lugares diferentes durante esse momento mágico do dia: em uma praia de pescadores locais, no meio de uma trilha perto de um farol, na incrível praia norte, na legal mas nem tão incrível assim praia sul, no restaurante italiano que tinha uma pizza barata e boa de dividir e em Kalanggaman. Kalanggaman? O que é isso?

Vila de pescadores

Kalanggaman é uma ilhota mágica que fica perto de Malapascua e com certeza é um dos lugares mais bonitos que conhecemos na viagem. Mas como já escrevi demais e ainda tem muito para falar sobre nosso acampamento a base de salgadinhos radiativos por lá vou dividir esse post em 2, fique esperto e não deixe de perder. 

Beijos Quentes

Filipinas e o capítulo em que nada muito interessante acontece

Olá, corajosos e corajosas.


Espero que tenham todos sobrevividos a mais uma semana nesse mar tempestuoso chamado vida que enfrentamos em uma canoa frágil e prestes a afundar. Espero que os tubarões da realidade não tenham abocanhado nenhum de vocês. Caso isso tenha acontecido, tenho esperança que você encontre conforto nos braços de uma pessoa amada e/ou em um copo de bebida. Mas, se nada disso funcionou, aí sim eu recomendo você ler esse blog para tentar se distrair. Mas tenha certeza que não tem nada de melhor para fazer antes. 

Andando pelas Filipinas dá para encontrar uns fortes perdidos

Esse relato continua exatamente de onde o anterior parou, no momento que, ainda na ilha de Cebu, nos despedíamos (junto com nossos companheiros Ed e Enzo) de Moalboal para ir em direção a Bohol. Que é… isso mesmo, outra ilha. Filipinas parece um pedaço de terra que foi estilhaçado a pisadas por um ser gigantesco. Nada é conectado, tudo é cortado por distâncias pequenas, porém irritantes, de água salgada. Dava saudades de um país continental como o Brasil. 

Chegar em Bohol, como chegar em qualquer lugar nas Filipinas, foi uma tarefa cansativa. Pegamos um ônibus apertado até Oslob (cerca de duas horas de viagem), embarcamos em uma balsa em um mar agitado e enfrentamos mais duas horas de pessoas passando mal ao nosso lado. Quase fui vítima de uma senhora asiática que invocou suas tripas ali mesmo. E aí teve mais um tuktuk, claro, quando finalmente mudamos de ilha. Entre tempo de transporte e tempo de espera foi-se um dia inteiro nessa jornada maluca. Um exercício cansativo e que nos deixou, com o perdão da palavra, com o saco na lua.

Chocolate Hills em Bohol

Apesar de termos ficado quatro noites em Bohol, quase não fizemos nada por lá, e nem acho que tem tanto assim o que fazer (o que provavelmente é uma afirmação errônea de quem não aproveitou muito bem o lugar, se for para lá pesquise melhor invés de confiar em mim). Ficamos perto de Alona Beach, região que parece prestes a virar um paraíso de resorts, principalmente para turistas coreanos. Não sei a razão disso, pois não achei as atrações tão espetaculares quanto as encontradas em outras ilhas. Claro, são lugares bonitos, não estou dizendo que são feios como a praia da Enseada pós festa de réveillon, mas como estávamos vindo de verdadeiros paraísos o “bonito” ficou um pouco sem graça. 

Para ser justo, nosso cansaço mental, já mencionado no post anterior, nos acompanhou até Bohol, e aliado ao seu melhor amigo, o cansaço físico, nos transformou em uma pilha de trapos humanos. Estávamos em estado de ressaca perpétua. Era tanta preguiça que sair do quarto do hotel era tão cansativo quanto uma maratona. Sim, eu sei, é muita frescura para quem estava viajando o mundo, mas acontece, fazer o que. 

Claro, não foram dias completamente inúteis. Saímos da cama (com esforço), conhecemos, comemos, respiramos, comemos e também comemos mais um pouco. 

Dentre essas atividades o maior destaque foi um tour pelo interior da ilha, em que passamos por diversos pontos diferentes ao longo do dia. Adorei conhecer o Tarsius, um bicho nativo de uma parte específica do sudeste asiático que é totalmente único. Ele tem olhos grandes como de mangás (quadrinho japonês), dedinhos pequenos e um rabo duro e asqueroso. Parece um esquilo que deu errado. E tem mais, se você fizer muito barulho ele comete suicídio batendo a cabeça sem parar contra o tronco de árvores. Pensa em um bicho que precisa de mais tratamento psicológico que a sua prima que acabou de anunciar para a família toda que só “se alimenta de luz” . É o Tarsius.

Tarsius

Outro ponto de Bohol que queríamos conhecer eram as famosas Chocolate Hills, cartão postal da ilha. Uma série de colinas arredondadas, de formato e tamanho similares, que formam uma paisagem magnífica. Vimos o pôr do sol lá e foi bacana, mas acho que todo mundo presente achou mais legal do que eu. Talvez eu esteja cada vez mais velho e ranzinza, o que é bem provável. Gosto de pensar que meu “animal espiritual” é um senhor de 75 anos preso em um ciclo sem fim na fila do INSS.

Também passamos pelo Rio Loboc, o mais famoso da ilha, que tem uma bela água cor de esmeralda. Mas foi só, passamos por cima dele em uma ponte e depois mal o vi de novo.

O rio Loboc

Enfim, Bohol foi praticamente isso. Quer dizer, teve mais um passeio de certo destaque, um passeio tristíssimo em que o objetivo era ver vagalumes que ficam em árvores à beira do rio, obviamente durante a noite. O passeio tinha potencial, supostamente seria um espetáculo lindo e onírico, mas o lugar era longe, uns chineses do nosso grupo atrasaram o tour e chegando lá vimos que era melhor eu ter subido na árvore com uma lanterna presa às nádegas do que o “show” que os vagalumes deram. Faria mais luz e com certeza seria um entretenimento de melhor qualidade. Não sei se pegamos um dia ruim ou se é sempre assim, mas não deu pra ver nada, só ficamos rondando com o barco no escuro enquanto éramos agraciados por um acalentador cheiro de diesel. Foi horrível.

E por fim retornamos à Cebu. Nos despedimos, agora sim, dos nossos divertidos companheiros brasileiros e voltamos a ser apenas eu e a Má na viagem. Que sentimento gostoso.

Novamente, nada contra outras pessoas, mas foi revigorante voltarmos ao modo “natural” da nossa jornada. Eu e Marina contra o mundo. Mais livres para escolher, para ir e vir e, principalmente, para errar. 

Pegamos uma balsa para a horrenda Cebu City logo às 6 da manhã, pois nosso dia seria longo. Precisávamos fazer uma porção de coisas que no fim descobrimos serem inúteis, ou seja, logo cometemos um ato clássico da dupla: desperdiçar muito tempo e algum dinheiro em um lugar tosco. Nós realmente estávamos de volta!  

Aliás vou até detalhar essa nossa peripécia, que é bem vergonhosa, já adianto. Quando entramos nas Filipinas olhamos o carimbo de nossos passaportes e achamos que só teríamos 30 dias no país. Baita injustiça, já que brasileiros podem ficar 59 dias sem visto nessa terra de ilhas abençoadas. E o pior, nós ficaríamos 31 dias ao todo por lá e ficamos com medo de algum agente da imigração encrencar conosco por apenas 1 dia de excesso, por isso decidimos passar em um escritório da imigração filipina, em Cebu, para resolver essa patavina. Bom, após pegar a balsa achamos um escritório e nos deslocamos do porto até ele em um dia cinza e chuvoso, esperamos o escritório abrir e fomos quase os primeiros a serem atendidos para… para… bem, para o funcionário que nos atendeu falar em menos de 1 minuto que nossa situação estava OK. 

Como assim OK, meu chapa? Nós tínhamos olhado diversas vezes aqueles passaportes e tínhamos certeza do problema. Era só observar que nosso tempo máximo de estadia estava marcado para 22 de Março e…. E foi aí que nosso mundo ruiu e nos tocamos que ainda estávamos em Fevereiro e que sairíamos em 23 de Fevereiro do país. O oficial da imigração tinha nos dado 59 dias de estadia, mas por alguma birutice coletiva nós dois deletamos um mês inteiro de nossas mentes e já achávamos que estávamos em Março, o que atrapalhou a “complexa” conta de subtração que fizemos para calcular nosso tempo de estadia. Foi vergonhoso. Foi irritante. Único ponto positivo foi não ter que enfrentar nenhum trâmite burocrático, mas “só”.

Uma foto bonita para vocês esquecerem nossas burradas

Fora que o funcionário do escritório ainda nos deu um olhar que era um misto de dó com preocupação, meio que duvidando das nossas capacidades cognitivas. Pior que eu nem posso culpar ele. 

Só nos restava comemorar (ou lamentar) e continuar com o itinerário do dia.

Depois dessa epopeia da burrice pegamos um ônibus de umas 5 horas até Maia, extremo norte da ilha de Cebu, onde aí sim iríamos pegar uma balsa até Malapascua, uma pitoresca ilha entre Cebu e Leyte, nosso último destino nas Filipinas. 

Segurem-se pois os relatos das Filipinas estão acabando. Depois de Malapascua, a terra do pôr do sol que nunca decepciona, já chega a Austrália. 

Até a próxima e, claro, beijos quentes.

Filipinas ou a fênix da decepção ou nosso tempo em Coron e Moalboal

Post atrasado tem que abrir com foto bonita de Moalboal

Olá, turma.

Não, ainda não fiz como os mais sábios que desistem de tudo pois sabem que nem adianta tentar. Apenas atrasei uns bons dias a atualização deste espaço virtual porque fui capturado pelo rodamoinho lamacento que é a vida. Contas, trabalho, apostas no jogo do bicho, o tipo de coisa que toma o tempo do cidadão brasileiro. Mas agora estou de volta, pronto para decepcionar vocês e me decepcionar também, com um post curto apenas para aquecer os motores deste calhambeque enferrujado movido a bobagens. 

No texto passado contei sobre nossas desventuras no alto mar filipino. Foram dias de sol, água e higiene pessoal debilitada. Ou seja, valeu a pena

Depois que a expedição com a TAO terminou desembarcamos em Coron, outra ilha que faz parte do país. Uma ilha média que fica cercada por ilhotas menores, pequenos paraísos próximos. Coisa de outro mundo mesmo. Filipinas é um país lindo, dos mais lindos que já vi na vida, mas o espetáculo que presenciamos ao fazer um passeio por Coron ganha de quase tudo que vimos nesse tesouro do pacífico. 

Aliás Coron é o nome da cidade, não sei se o nome da ilha, talvez seja. O caso é que é uma cidade bem da simpática. Mais acessível e menos lotada que El Nido, pelo menos no pouco tempo que ficamos por lá. 

Sair da nossa vida marítima foi bom, finalmente tomamos um banho decente, comemos pizza e, no dia seguinte, nosso único inteiro lá, fizemos um passeio privado (ainda com nossa gangue de brasileiros) para uma série de praias além do canal de Coron, local onde venta muito e o mar fica mais arredio. Não foi fácil fazer a travessia, na ida ficamos um pouco tensos pois até a tripulação do nosso barquinho estava nervosa, quando vi até o capitão colocando colete salva-vidas eu tive certeza de que iríamos afundar, afinal um velho lobo do mar filipino não deveria se assustar com nada. Deu tudo certo. Depois, na volta, navegamos enfrentando ondas grandes que castigaram o barco e nos molharam muito, mas apenas rimos da situação. Coisa de brasileiro tonto mesmo, pois depois encontrei europeus que fizeram o mesmo passeio e estavam horrorizados com as condições. Já que é para morrer, melhor morrer se divertindo.

E como já adiantei ali em cima no texto, as praias que conhecemos nesse passeio são de outro planeta. Mesmo após a TAO, que elevou o sarrafo de “beleza praiana” nas nossas vidas, posso dizer que essas ilhas foram alguns dos lugares mais belos que já vi. Outra coisa que fez a nossa quase morte valer a pena. 

Se alguém quiser dar um Google, pesquise por  Bulog Dos. Uma pintura turquesa e amarela no meio do oceano arredio. Com águas mornas e calmas e muita vida em volta, é, sinceramente, um dos mais incríveis espetáculos visuais que esses cansados olhos já presenciaram. E olha que eu já vi meu tio Glauber dançar na festa do Havaí de 2002 vestido de Carmem Miranda. É um  lugar para amarrar uma rede, ler um livro, tomar uma cerveja e ser feliz. 

E essa não foi a única praia de cair o queixo que visitamos, passamos por mais uma belezura chamada Malcapuya, outro espetáculo da natureza que estava vazio quando chegamos e que após um breve mergulho na água foi tomada por hordas ensandecidas de turistas. Tudo bem, mesmo assim aproveitamos demais o dia.

Marina em um banco de areia pra lá de bonito

E nosso tempo em Coron foi esse, uma noite de pizza, um dia de passeio e umas cervejas para desbaratinar a mente no entardecer. Depois já tínhamos compromisso marcado em outros locais filipinos, mas me arrependo demais de não ter passado mais tempo em um lugar tão incrível e com um clima tão gostoso. 

De Coron fomos, de avião, para Cebu, outra ilha grande nas Filipinas. Ficamos um dia em Cebu City, que é um dos lugares mais desagradáveis que já conheci (e olha que eu conheço Salto), e depois partimos (junto com nossos amigos brasileiros) para a parte sudoeste da ilha, em direção a Moalboal. Isso em um ônibus de 4 horas mais apertado que a casa da sua tia acumuladora que não consegue parar de comprar produtos Polishop. 

Chegamos e achamos um McDonalds. E lá se foi o resto da tarde, jogando cartas e comendo frituras. Nada como aproveitar bem um lugar lindo como as Filipinas.

Olha a cor da água da cachoeira

Moalboal não tem muito o que fazer. Quer dizer,  tem as famosas cachoeiras Kawasan, o mergulho com as sardinhas, umas praias locais (uma bem bonita) e o passeio que envolve pegar um ônibus de duas horas até Oslob para mergulhar entre um milhão de pessoas e ver um tubarão-baleia semi-domesticado com uma eterna expressão de socorro nos olhos.

Dessas opções só fomos até a cachoeira, lugar incrível e lindo, me surpreendeu pois achei que seria mais cheia de gente e menos espetacular. Ela tinha vários andares, água azul turquesa e ainda fiz mais uns cliff jumps lá, dessa vez de 11 e 14 metros. Legal pra caramba. Acho que daqui a pouco alguém já começa a me chamar de “Homem-Aranha brasileiro”, quem sabe.

Moalboal foi ainda o lugar onde nossa turma brasileira cresceu exponencialmente. Encontramos amigos que já tínhamos visto na Tailândia, conhecemos gente nova e arrastamos o Ed e o Enzo para a galera. Foi uma bela de uma farofada lá na cachoeira. Como é bom fazer uma muvuca com nossos conterrâneos. Como eu disse, fora conhecer as Kawasan Falls esse não foi um ponto de muitas emoções, mas só de estar com pessoas bacanas valeu a pena. 

Brasileirada se locomovendo

Último ponto de destaque de Moalboal é que por lá alugamos uma motinho bem da fuleira, que nem chave tinha. Para andar só com ligação direta. Mas como foi bom ficar livre e poder explorar a região em um veículo digno de algum filme do Mad Max, foi mais um capítulo na minha recente história a lá Sons of Anarchy. 

Nossa motinho guerreira deu problema

E foi isso.

Esse foi um capítulo que cobriu muitos dias incríveis em que nós não estávamos com um humor tão incrível assim. Talvez até normal após quase 7 meses no caos da Ásia (gosto muito, mas cansa) e muitos dias com outros viajantes. É bem legal achar um grupo, é mesmo, mas eu já estava começando a sentir falta do nosso esquema mais ágil e privado em dupla – eu e Marina, os patetas, contra o mundo. 

Última fotinho para lembrar como o país é bonito

Nosso tempo nas Filipinas estava acabando, mas depois visitamos alguns lugares sobre qual vale escrever uma palavra ou duas, por isso tem mais texto pela frente. 

Beijos quentes