Filipinas ou a beleza do apocalipse

Olá, leitor(a) persistente.

Agradeço pela sua resiliência em não desistir desses textos quando eu mesmo já desisti de quase tudo. Você faz esse país ir para frente. Prometo por aquilo que me resta de bom e decente (não muito) que agora o blog terá atualizações mais constantes. Quero terminar logo de contar sobre essa jornada esquisita pelo mundo.

Kalanggaman

Para quem não lembra estávamos perdidos em uma ilhota no meio das Filipinas.

Kalanggaman, ou a ilhota da sedução, como gosto de chamar, é um pequeno ponto no mapa que fica a umas duas horas de distância de Malapascua e é o passeio mais famoso por lá. Kalanggaman é provavelmente o lugar mais bonito que visitamos nas Filipinas, e isso não é pouca coisa. É um lugar de filme, com mar tão azul que parece Gatorade. A água é a mais transparente que já vi, a areia a mais branca e os coqueiros vastos. Para completar existem dois bancos de areia na ilhota, um em cada ponta, que funcionam como caudas e dão um charme especial pro lugar. Um paraíso. E essa foi, tirando quando descrevi Bulog Dos, a única vez que usei a palavra “paraíso” sem exagero nesse blog. 

E o mais legal, acampamos nesse cenário cinematográfico por uma noite. 

Complicado…

Normalmente os passeios até Kalanggaman são bem básicos, os barcos chegam, ficam algumas horas e voltam antes do fim da tarde. Mas se você pagar a taxa da barraca e do pernoite pode capotar por lá. Foi o que fizemos e, graças a isso, presenciamos o melhor pôr do sol que já vi até hoje. Eu sei que tenho uma fixação em falar sobre pôr do sol, mas juro que esse foi emocionante. 

O dia nem estava bonito, o céu estava nublado e ostentando aquele “cinza tédio” que amargura o mais feliz dos humanos quando aparece de domingo. E a chuva também estava quase dando as caras, para terminar de arruinar o dia. Foi assim o tempo todo, mas bem no momento em que o sol descia rumo a oeste as nuvens abriram-se parcialmente e a luz atravessou a densa barreira acinzentada feito um holofote e iluminou bem a ponta de um dos bancos de areia da ilhota, como se indicando que ali seria o local ideal para apreciar o espetáculo que estava por vir. O jogo de luz, água e sombras já estava interessante e para melhorar tudo ao fundo passou, como quem não quer nada, uma baita tempestade empurrada pelo vento, o que formou um caos celeste surreal. Um emaranhado de azul, cinza, vermelho, amarelo e vermelho tomou conta do céu. O visual era ameaçador, mas deslumbrante. A tempestade ao fundo era digna do fim dos tempos e eu já estava preparado para cair na porrada com alguns dos cavaleiros do apocalipse, mas pelo menos estava tudo bem bonito.

Não dá para ver nem 1% do que realmente estava acontecendo

Alguns dos visitantes resolveram se aventurar até a ponta do iluminado banco de areia para ver tudo de mais perto, o que deu a impressão que eles estavam indo em direção ao arrebatamento ou dar as boas vindas para um ser alienígena prestes a descer dos céus. Uma cena que ficou marcada para na minha mente e que nenhuma foto que tirei conseguiu fazer justiça.  

Outra foto ruim de um momento incrível

E esse não foi o único espetáculo de Kalanggaman. Mas não mesmo. Pois ao anoitecer veio a lua, e não era qualquer lua chinfrim que você vê de Jandira ou Cesário Lange não, era noite de super lua. Ela estava tão grande e brilhante que parecia quase tocar a ilha. Uma pintura em tons escuros e prata.

Passamos momentos especiais nesse lugar perdido no Pacífico e tudo ainda coincidiu com nosso aniversário de casamento. Pensa em uma comemoração bacana.

Apesar dos tais momentos especiais nem tudo na nossa estadia foram flores. Aliás longe disso, até porque nem teve flor nenhuma. Para começar nossa única fonte de alimentos eram os salgadinhos radioativos comercializados na vendinha local. Isso mesmo, nossa preparação para acampar foi zero e nem um mísero sanduíche levamos. Por isso nosso almoço, nosso jantar, nosso café da manhã e nosso outro almoço teve como base um cardápio de variados snacks vindos direto de Chernobyl. Também dormimos no chão da barraca (sem proteção térmica ou algum tipo de colchão), que era bem vagabunda, e eu descobri que não tenho mais idade pra isso. Acordei com a coluna em um formato que até hoje desafia os ortopedistas. 

As vantagens de acordar sem a coluna

Mas esses contratempos não foram nada perto dos momentos marcantes que passamos na nossa ilha da sedução, que aliás tem esse nome porque ela seduziu a gente. Eu não tive condições de seduzir ninguém, Deus me livre fazer qualquer coisa naquele chão duro. Como já disse, não tenho mais idade.

Depois de Kalanggaman ainda voltamos pra Malapascua, onde ficamos mais dois dias. Sempre naquela mesma dinâmica que já descrevi anteriormente – praia do norte, encoxada de algum local na moto e restaurante gostoso na vila. Também conhecemos um casal de brasileiros muito gente boa, o Thiago e a Gabi.

É isso aí

Relaxamos, comemos e finalmente chegou o dia que eu achei que nunca chegaria. Em 22 de fevereiro começaríamos a nossa maratona para sair das Filipinas e do sudeste asiático. Estávamos cansados e precisávamos da Austrália, mas bateu um aperto no coração ao sair de um cantinho tão especial do planeta. 

E agora eu prometo que no próximo relato o nosso cenário já será outro. Esperem churrascos, porres, ressacas e muitas road trips nos próximos capítulos.

Beijos quentes

Um comentário em “Filipinas ou a beleza do apocalipse

  1. Preciso ver com calma todas essas fotos. Vc escreve e fotografa muitooo. Adorei a foto de dentro da barraca!!
    Amei o texto!

Deixe um comentário