Tailândia ou a ilha mágica

Esse relato cobre eventos de 06/11/2018 a 11/11/2018

Sejam bem-vindos amigos e amigas. Sobre o túmulo do bom-senso erguemo-nos em mais um dia de existência sem sentido. Para aumentar o nível do absurdo vivencial, eis aqui mais um capítulo do blog.

Saca só esse lugar. E o dia ainda estava “feio”

Os mais agraciados com memória se lembrarão que na última parte da aventura estávamos prestes a chegar em Surin.

Surin é um conjunto de ilhas e também um parque nacional na Tailândia. O acesso é restrito e a infraestrutura não é nem de perto a encontrada em outras ilhas do país. Não existem hotéis, resorts e restaurantes, apenas dois acampamentos em pontos distintos de uma das ilhas (a única em que se pode ficar). Nesses acampamentos existem banheiros e uma cantina. Para dormir os visitantes podem escolher entre tendas (acampar) ou uns poucos chalés que são bem caros. Para acampar é possível levar a própria barraca e só pagar a entrada do parque ou alugar as barracas que eles tem lá, muito mais acessível que os chalés, mas não é a coisa mais barata do mundo não. Além disso o parque nacional de Surin não é aberto para pernoites o ano todo, apenas em uma janela restrita entre outubro e maio. Todos esses fatores fazem o lugar ser um dos mais selvagens e sem turistas da Tailândia. E também um dos mais lindos.

Já da lancha que faz o transporte do porto de Khura Buri ficamos boquiabertos. Que mar. Que mar. Eu sei sou repetitivo e vou continuar sendo, sempre falando da cor do mar e etc… mas esses países da Ásia não pararam de me surpreender com suas belezas aquáticas. E olha que vínhamos de lugares lindos, como Phi Phi. Mas o azul de Surin… ah como o azul de Surin não tem igual. É forte e hipnotizante. Único. Deveria existir uma cor chamada “Azul de Surin”. Foi esse pedaço mágico de oceano que nos recebeu na ilha.

Ao chegar pagamos a entrada do parque (que dá direito de uma estadia de 5 dias, mas pode ser renovada) e fomos direcionados para nossa barraca, que ficava na areia bem em frente uma das praias. Aliás, ficava na praia. Se eu tropeçasse ao sair dela (algo muito provável de acontecer) já caía no mar. Olha, não tem hotel que se equipare com a vista da nossa “sacada” em Surin.

Garota local brincando na praia da cantina

A tenda era espaçosa e confortável, mas virava um forno durante o dia, mesmo a sob a sombra das árvores. O que, se você pensar bem, era um ponto positivo, pois assim a barraca fazia às vezes de acomodação e sauna, muito chique.

Mas sério, não dava para reclamar. A praia era linda e o mar estava ali disponível para nos refrescar quando desse na cuca. Aliás ficamos no acampamento 1, o único que estava aberto no nosso período de visita. Na nossa área podíamos curtir a praia em frente ao acampamento, a praia da chegada dos barcos e, com algum esforço, outras praias que ficavam na espécie de baía que a ilha forma, mas era necessário nadar pra chegar até elas. O acampamento 2 ficava na mesma ilha, mas na outra ponta da baía e em sua parte exterior, ou seja, dava pro mar aberto. Em teoria seria possível fazer uma trilha pela mata e visitar o acampamento, mas os cuidadores do parque fecharam o caminho devido ao alto número de cobras na floresta. Sim, Surin é bem selvagem. Mas não se aflija, amigo leitor, nós conseguimos chegar no outro acampamento. Já conto mais sobre isso.

Nossa parte da ilha contava ainda com uma cantina (única “fonte” de comida da ilha), que servia refeições simples, e banheiros com chuveiros. Ficar lá não era nenhum hotel 5 estrelas, mas estava longe de ser um acampamento cheio de perrengues. Tinha alguns, claro, mas eles só deixaram tudo mais divertido.

Um dos principais “problemas” enfrentados foi a areia. Aquela linda e convidativa areia branca também conseguia ser cruel e teimosa. Era impossível não levar areia pra barraca e, bem, dormir com ela raspando no colchão fuleira que tínhamos era o mesmo que dormir em uma lixa. Ótimo para uma esfoliação de corpo inteiro.

Outro desafio apresentado por Surin foram as formigas. Isso mesmo, formigas. Eu não sei o que tinha mais lá na praia, se era areia ou formiga. Era impossível ficar deitado tranquilo curtindo o sol sem sentir algumas persistentes guerreiras te escalando. Tínhamos formiga em tudo quanto é lugar, desde os cabelos até os buracos mais escuros de nossos corpos. Elas nem picavam, mas enchia o saco tentar relaxar enquanto uns insetos subiam em nós. Eu só aprendi a masterizar a convivência com as formigas no nosso penúltimo dia lá.

Aliás não eram só essas pequenas trabalhadoras que visitavam o acampamento. Alguns turistas desavisados deixavam comida a mostra em suas barracas. E aí vinham os macacos. E os macacos de lá são ousados, e olha que macaco já é um bicho ousado por natureza. Eles entravam nas barracas, roubavam coisas, brigavam com humanos e tocavam o terror pelo acampamento. Era engraçado de ver, mas confesso que uma vez fiquei apreensivo, pois o macaco (grande) entrou na barraca de uma coreana com ela lá dentro, fiquei com medo dela se machucar, mas nada aconteceu. Ainda bem que nenhum deles veio se engraçar comigo, sou amante dos animais e fiquei temeroso da possibilidade de sair na mão com um símio enfurecido. Todo mundo sabe que macaco luta bem.

O pilantra

E a bicharada não parava por aí: era rato, cobra e mais algumas coisas peculiares com várias patas que visitavam nossas barracas. Foram dias emocionantes.

Aliás, falando em emoção, uma das coisas mais legais que fizemos por lá, fora relaxar torrando sob o sol, foi aproveitar a maré baixa e nadar/andar pelas pedras até o outro lado da baía, em direção ao acampamento 2. Passamos por duas praias desertas no processo (algo muito raro na Tailândia). Foi um momento incrível, uma junção da paz que a natureza traz com a adrenalina da nossa trilha aquática. E o visual não era nada mal. Ao chegar ao lado oposto da baía atravessamos um curto trecho de mata achamos o tal do acampamento 2. Como ainda não era temporada, lá só tinham alguns cuidadores arrumando tudo para a eminente onda de visitantes. A praia desse acampamento era bem maior e mais isolada, mas achei nosso cantinho mais aconchegante. E após essa visita fizemos o quê? Oras, nadamos tudo de volta. Pelo menos fomos presenteados com um pôr do sol incrível no caminho. Essa foi nossa mini aventura dentro da grande aventura de Surin, só faltou um embate subaquático com um tubarão para ela ser melhor ainda.

Falando em coisas embaixo da água, esse era um dos pontos fortes do local, a visibilidade e a vida presente no mar. Surin é, segundo muitos nos disseram, o melhor ponto de snorkel da Tailândia. No acampamento era possível fazer dois passeios diários de snorkel por um preço camarada, e eu participei de duas saídas em dias diferentes. Realmente a vida e os corais lá eram incríveis, só vi coisas mais legais em lugares remotos das Filipinas, mas a história mais interessante relacionada a snorkel aconteceu quando voltando de um desses passeios, em que fui sozinho, me deparo com a Marina sendo massageada por um coreano sarado que também estava acampando por lá. Eu cheguei perto com agressividade, sem dizer nada mas com uma linguagem corporal para impor respeito, mas logo o rapaz me envolveu no ritual dele que era um misto de medicina coreana, chinesa e artes marciais e quando eu vi ele estava mexendo no meu peito. Mas não era de uma forma gostosa. Antes fosse. Ele primeiro deu umas espécies de tapas lentos, mas poderosos, que quase já expurgaram todo meu ar. Depois ele começou a fazer uns movimentos circulares com as pontas dos dedos e eu tinha certeza que ele ia arrancar meu coração do peito igual o vilão (que esqueci o nome) faz no Indiana Jones e o Templo da Perdição. Foi aí que percebi que a Marina não estava sendo massageada, mas sim torturada. De qualquer jeito eu salvei o dia e fui um herói. E sim, meu peitoral ficou dolorido por uma semana. Isso aconteceu logo em um dia que tudo tinha começado tão bem e eu tinha até visto golfinhos. Enfim, coisas de Surin.

Achamos que nossos dias lá seriam apenas pautados por longas esticadas na areia e mergulhos em águas incríveis, mas nós nos aventuramos na nossa própria trilha (como já relatado acima), fizemos yoga com uns tailandeses simpáticos, jogamos frisbee com outros tailandeses simpáticos, jogamos papo fora com o tal do coreano (que mal falava inglês) e com um francês que adorava nos dizer como ele nadava bem e ainda visitamos uma vila de “ciganos do mar”, uma antiga tribo de pessoas que já foram nômades aquáticos, mas hoje estão estabelecidos em uma comunidade dentro do parque nacional. Olha, foi uma estadia movimentada.

A tribo de ciganos do mar

Uma coisa muito bacana da ilha eram as pessoas que estavam no local. Não os visitantes das day trips que passavam lá vindo de outras cidades próximas, mas sim os membros do acampamento. Pareciam viajantes diferentes do que tínhamos visto até aquele momento – interessados, curiosos e levemente desajustados. Aquele tipo de pessoa “raiz” que quer apenas devorar o mundo. Para se ter uma ideia, ao voltarmos do parque nacional passamos de novo pelo hotel do Tom e da Ann e lá encontramos com um francês, um velho amigo deles que estava indo para Surin. Ele visitava o lugar todo ano há quase 3 décadas e a primeira vez descobriu o local apenas seguindo “um boato de viajantes”. Imagina ter a coragem de desbravar um país apenas por causa de um boato? Era esse o tipo de maluco que achamos por lá.

E outra coisa muito bacana, Surin foi o primeiro lugar da Tailândia onde achamos turistas tailandeses

Um mergulho rápido e várias cores

Olha, foi uma estadia quase perfeita: relaxamos, lemos, nadamos e nos aventuramos. Conhecemos e dividimos. Enfrentamos sol, calor e também chuvas torrenciais (e nossa barraca aguentou, ainda bem). Tudo isso em um dos lugares mais lindos que já vimos.

Com certeza Surin foi o canto mais especial que achamos na Tailândia.

Mas depois de 5 dias precisávamos ir embora e então voltamos para Khura Buri prontos para seguir mais ao norte ainda, dessa vez em direção à abafada Bangcoc.

E isso será o tema do próximo post.

Beijos quentes.

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